Programação contínua no Espaço Multiuso do Cine Santa Tereza, de 1º a 4 de junho:
Instalação: Lumbreras, por Colectivo Los Ingrávidos
- Ritual (México, 2023, 15’)
- Triptico 1 (Coyote, México, 2023, 15′)
- Triptico 2 (Xiuhtecuhtli, México, 2023, 15′)
- Triptico 3 (Espejo humeante, México, 2023, 15′)
- Triptico 4 (Mictlantecuhtli, México, 2023, 15′)
* Horários: Quinta e sexta, das 10h às 21h; Sábado e domingo, das 16h às 21h.
Quarta-feira, 31 de maio, às 19h30 – Centro Cultural Vila Marçola
Visões: Colectivo Los Ingrávidos 1 + DJ Supololo
Quinta-feira, 1º de junho, Cine Santa Tereza
10h às 13h – Curso: Artes fílmicas experimentais na perspectiva das mulheres, com Patrícia Mourão de Andrade (com inscrição prévia: informações em @fendafestival)
15h – Pioneras: Narcisa Hirsch + Colectivo Cine Mujer
- Ama-Zona (Narcisa Hirsch, Argentina, 1983, 15′)
- Coisas de Mulheres (Cosas de Mujeres, Rosa Martha Fernández, México, 45′)
16h15 – Competitiva BH 1
- Mnema (Rodrigo Leme, Brasil, 2022, 6”)
- Curral Central (Rosa Dornas, 2022, Brasil, 4’)
- Primeira sessão (Pedro Henrique Moreira, 2022, Brasil, 11’)
- Monumento à Desmemorialização (Florença Fabiano e Lucas Tavares, 2022, Brasil, 5’)
- mix-bus (Walquíria Isabel, 2022, Brasil, 4’)
- Agora você vai ver o meu rosto até nos lugares mais insubmissos dessa cidade (Breno Henrique, 2023, Brasil, 131)
* Sessão seguida de debate com realizadores
18h15 – Competitiva Internacional 1
- Abrir é Abrindo (Open is Opening: Abrir es Abrirendo, Amber Bemak, Nadia Granados, Liz Rosenfeld, Colômbia, Alemanha, EUA, 2023, 19’)
- Adeus Agora (Bye Bye Now, Louise Bourque, Canadá, 2022, 8’)
- Não é Isso Que Eu Deveria Sentir? (Isn’t this what I’m supposed to feel?, Abdimalik Ahmed, EUA, 2023, 7’)
- Bestiário: Quatro (Bestiario cuatro, Milton Ernesto Guillén, Luis Fernando Amaya, Elana Meyers, Nicarágua, 2023, 12’)
- Ar Quente (Pe ataju jumali / Hot Air Unides contra a colonização: muitos olhos, um só coração, Brasil, Colômbia, 2023, 25’)
19h45 – Visões: Colectivo Los Ingrávidos 2
- O Quarteto Solar, parte 1: Pedra do Sol, de Los Ingrávidos (The Sun Quartet, part1: SunStone, México, 2017, 6’)
- O Quarteto Solar, parte 2: Rio San Juan, de Los Ingrávidos (The Sun Quartet, part 2: San Juan River, México, 2017, 12’)
- O Quarteto Solar, parte 3: Conflagração, de Los Ingrávidos (The Sun Quartet, part 3: Conflagration, México, 2017, 16’)
- O Quarteto Solar, parte 4: Longe de Ayotzinapa (The Sun Quartet, part 4: Far from Ayotzinapa,México, 2017, 22’)
* Sessão comentada por Davani Varillas (Colectivo Los Ingrávidos)
Sexta-feira, 2 de junho, Cine Santa Tereza
10h às 13h – FENDA – Curso: Artes fílmicas experimentais na perspectiva das mulheres, com Patrícia Mourão de Andrade (com inscrição prévia: informações em @fendafestival)
15h – Horizontes: Marcellvs L.
- 0778 ou man.road.river. (Marcellvs L.,Brasil (2004, 9’)
- Toga, (Marcellvs L., Islândia, 2011, 10’)
- 9493 (Marcellvs L., Islândia, 2001, Islândia, 11’)
- Resiliência (Marcellvs L., Islândia, 2016, 24’)
16h15 – Competitiva BH 2
- Sumidouro/Nada continua (Gabraz Sanna, Diana Sandes, 2023, Brasil 7’)
- L A V A (Francisco César, Luiz Pretti, Natália Reis, 2022, Brasil, 20’)
- Natureza e destino (Bruna Costa Leite, 2022, Brasil, 4’)
- Folhada (Paula Huven, 2022, Brasil, 6’)
- c:\lixeira (Arthur Quadra, 2022, Brasil, 8’)
* Sessão seguida de debate com realizadores
18h – Competitiva Internacional 2
- Sequências Labirínticas (Laberint Sequences, Blake Williams, Canadá, 2023, 20’)
- Afogada (Ertrunken, Friedl vom Gröller, Austria, 2022, 3’)
- A mão que toca o braço (Calac Nogueira, Brasil, 2022, 14’)
- A Poeira Já Não Nubla Nossos Olhos (El polvo ya no nubla nuestros ojos, Colectivo Silencio, Peru, 2022, 25′)
- Começo a Ver a Luz (I’m beginning to see the light, Melissa Dullius, Brasil, Alemanha, 2023, 10′)
19h45 – Visões: Colectivo Los Ingrávidos 3
- Coyolxauhqui (Los Ingrávidos, México, 2017, 7’)
- Impressões para uma Máquina de Luz e Som (Impressions for a Light and Sound Machine, Los Ingrávidos, México, 2014, 6’)
- Sangue Seco (Sangre Seca, Los Ingrávidos, México, 2017,10’)
- Você viu? (¿Has Visto?, Los Ingrávidos, México, 2017, 7’)
- Notas para um Déjà-Vu (Notes for a DejaVu, Los Ingrávidos, México, 2021, 22’)
* Sessão comentada por Davani Varillas (Colectivo Los Ingrávidos)
Sábado, 3 de junho, Museu da Moda
11h – Conferência: Materialismo xamânico, com Davani Varillas (Colectivo Los Ingrávidos
Sábado, 3 de junho, Cine Santa Tereza
16h15 – Competitiva Internacional 3
- 8 de Março de 2020: Memórias (March 8, 2020: A Memoir, Fırat Yücel, Turquia, 2022, 15′)
- Revólver (REVOLVER, Crystal Z Campbell, USA, 2022, 17′)
- Eu Vi (I saw, Vadim Kostrov, Rússia, 2022, 28′)
17h30 – Competitiva Internacional 4
- Simpósio Preto (Black Symposium, Katia Sepúlveda, República Dominicana, Alemanha, 2022, 26′)
- Exemplo Nº 35 (Ejemplo # 35, Lucía Malandro, Daniel D. Saucedo, Cuba, 2022, 6′)
- Todos Queremos um Lugar para Chamar de Nosso (We all want a place to call our own, Daniela Delgado Viteri, Equador, 2022, 13′)
- Como Construir uma Casa com Destroços e Trapos (How to Build a House out of Wreckage and Rags, Bernd Lützeler, Alemanha, 2022, 8′)
- Dembi Tama (Alex Brandão, Modou Kara, Brasil, 2022, 7′)
- Navaja (Urutau Maria Pinto, Brasil, 2022, 25′)
* Sessão comentada por realizadores
19h45 – Visões: Colectivo Los Ingrávidos 4
- O Ninho do Sol (El Nido del Sol, Los Ingrávidos, México, 2021,5’) – Exibição em 16mm
- Tonalli (Los Ingrávidos, México, 2021, 16’)
- Sensemayá (Los Ingrávidos, México, 2021, 7’)
- Itzcóatl (Los Ingrávidos, México, 2014, 5’)
- Terra em Transe (Tierra en Trance, Los Ingrávidos, México, 2022, 38’)
* Sessão comentada por Davani Varillas (Colectivo Los Ingrávidos)
Domingo, 4 de junho, Cine Santa Tereza
16h15 – Horizontes: MLB
- Na Missão, com Kadu (Aiano Bemfica, Pedro Maia de Brito e Kadu Freitas, Brasil, 2018, 27’)
- conte isso àqueles que dizem que fomos derrotados (Aiano Bemfica, Camila Bastos, Cris Araújo e Pedro Maia de Brito, Brasil, 2018, 23)
- videomemória (Aiano Bemfica e Pedro Maia de Brito, Brasil, 2020, 21’)
*Sessão comentada pelos realizadores
18h00 – Pioneras: Lidia García Millán + Eloísa Araújo Ribeiro
- Avenida 18 de Julio (Lidia García Millán, Uruguai, 1951, 4′)
- Un Día Feriado (Lidia García Millán, Uruguai, 1951,8′)
- Ritm-Zoo, de Lidia García Millán (Uruguai, 1956, 4′)
- Montevideo (Lidia García Millán, Uruguai, 1955, 10′
- Navidad (Lidia García Millán, Uruguai, 1956, Uruguai, 4′)
- Color (Lidia García Millán, Uruguai, Uruguai, 4′)
- Entre-Linhas (Entre-Lignes, de Eloísa Araújo Ribeiro, França, 1982,2′) – Exibição em 16mm
- Eis (Voici, Eloísa Araújo Ribeiro, França, 1983, 1′) – Exibição em 16mm
- A Torto e a Direito (À Tort et à Travers, de Eloísa Araújo Ribeiro & Jennifer Burford (França, 1983, 1984, 13′) – Exibição em 16mm
* Sessão com a presença de Eloísa Araújo Ribeiro
19h30 – Encerramento + Sessão Especial
Entrega dos prêmios de Melhor Filme da Competitiva BH, Melhor Filme da Competitiva Internacional e Melhor Filme Latino-americano pelo júri
Sessão de encerramento:
- Últimas Coisas (Last Things, de Deborah Stratman, EUA, 2023, 43’)
PROGRAMAÇÃO DETALHADA + SINOPSES
PIONERAS
PIONERAS: NARCISA HIRSCH + COLECTIVO CINE MUJER
A mostra retrospectiva Pioneras é dedicada a mulheres latino-americanas que tiveram protagonismo no cinema experimental entre os anos 1950 e 1980. Na primeira parte da sessão, exibimos Ama-Zona (1983), da argentina Narcisa Hirsch, uma das mais reconhecidas cineastas experimentais latino-americanas, que é uma evocação poderosa do mito das amazonas em um estudo sensorial sobre o corpo feminino. Na sequência, promovemos a estreia brasileira da cópia recentemente restaurada de Cosas de Mujeres (1978), trabalho seminal de mescla entre ficção e documentário dirigido pela mexicana Rosa Martha Fernández e realizado pelo Colectivo Cine Mujer, um dos mais importantes grupos de produção audiovisual feminista da América Latina.
Ama-Zona (Ama-Zona, Narcisa Hirsch, Argentina, 1983, 15′)
Baseado no mito das Amazonas. Uma imagem desfocada transforma-se em uma mulher despojando-se da pele do peito até que, transfigurada, empunha novas armas: o arco e a flecha.
Coisas de Mulheres (Cosas de Mujeres, Rosa Martha Fernández, México, 1978, 45′)
Os anos 1970, no México, foram marcados pelo nascimento do movimento feminista e pelo surgimento de um novo cinema independente. O colectivo Cine Mujer surgiu da iniciativa de várias alunas do Centro Universitário de Estudos Cinematográficos para realizar um trabalho sobre o aborto no México, que eventualmente resultaria neste filme. O caso de uma jovem estudante que vive uma gravidez indesejada e é submetida à humilhação de um médico que pratica a operação clandestinamente. A trama dá lugar a um impressionante jogo experimental entre ficção e documentário, cheio de contaminações entre os testemunhos e as encenações.
PIONERAS: LIDIA GARCÍA MILLÁN + ELOÍSA ARAÚJO RIBEIRO
A mostra retrospectiva Pioneras é dedicada a mulheres latino-americanas que tiveram protagonismo no cinema experimental entre os anos 1950 e 1980. Na primeira parte da sessão, destacamos a produção da cineasta uruguaia Lidia García Millán, cujas sinfonias urbanas e experimentos abstratos, realizados ainda nos anos 1950, constituem um caso de pioneirismo ainda desconhecido no resto da América Latina. Exibimos seus filmes Avenida 18 de Julio (1951), Un Día Feriado (1951), Ritm-zoo (1956), Montevideo (1955), Navidad (1956) e a obra-prima Color (1955), na qual a performance musical gravada ao vivo cria uma experiência vívida das cores. A sessão se completa com o trabalho da brasileira Eloísa Araújo Ribeiro, em três filmes abstratos realizados na França nos anos 1980: Entre-Linhas (1982), Eis (1983) e A Torto e a Direito (1983-1984). Mais conhecida como uma das mais importantes tradutoras da língua francesa no país, Eloísa é praticamente desconhecida como cineasta, e o FENDA tem a honra de trazer seus trabalhos pela primeira vez ao Brasil em formato analógico 16mm, em cópias vindas diretamente de Paris.
Avenida 18 de Julho (Avenida 18 de Julio, Lidia García Millán, Uruguai, 1951, 4′)
Este filme foi o vencedor do Primeiro Concurso de Cine Relámpago, organizado pelo Cine Universitario do Uruguai, organização fundada em 1949 e responsável pela promoção do cinema uruguaio. Este filme é cercado por histórias afetivas que fazem a construção do cinema feito por mulheres. Por outro lado, destaca-se a metodologia proposta pelos responsáveis pelo Concurso: realizar um filme em nossa avenida principal com uma tomada única e montagem na câmera.
Um Feriado (Un Día Feriado, Lidia García Millán, Uruguai, 1951, 8′)
Filme participante do Segundo Concurso de Cine Relámpago organizado pelo Cine Universitario de Montevidéu. A obra teve a assistência de J.J Zanoni, mencionado em alguns textos como parte do Grupo de Arte No Figurativo (1952).
Ritm-Zoo (Ritm-Zoo, Lidia García Millán, Uruguai, 1956, 4′)
Este filme mostra a assinatura pessoal da cineasta, que é o corte direto na montagem, a performatividade sonora e a captura de um instante.
Montevideo (Montevideo, Lidia García Millán, Uruguai, 1955, 10′)
Este filme tem como eixo visual os barcos e seu contexto. Com montagem diretamente na câmera, as panorâmicas retratam situações e se detêm pontualmente em quadros que falam de uma forma de ser e de respirar.
Natal (Navidad, Ligia García Millán, Uruguai, 1956, 4′)
Neste trabalho, o foco é o Natal. As imagens mostram um agitado dia na principal avenida de Montevidéu. Com montagem diretamente na câmera, Lidia García Millán vai pintando e documentando, com o olhar de quem caminha, o devir das ações espontâneas.
Cor (Color, Lidia García Millán, Uruguai, 1955, 4′)
Neste trabalho, a cineasta propõe uma transversalidade entre som, pintura e cinema, de uma maturidade conceitual única naquele contexto. É o filme mais conhecido de Lidia García Millán, o único em cores e o mais ambicioso formalmente. A trilha sonora é criada especialmente para a obra a partir da projeção por músicos do Hot Jazz Club.
Entre-linhas (Entre-Lignes, Eloísa Araújo Ribeiro, Brasil, 1982, 2′)
O que se segue
O que não é mais
e continua
Ainda
E quase não
E
Voici (Eis) (Eloísa Araújo Ribeiro, Brasil, 1983, 1′)
Fragilidade, fugacidade da imagem
eis
Entre seu aparecer-desaparecer.
À Tort et à Travers (Eloísa Araújo Ribeiro & Jennifer Burford ,Brasil 1983, 1984,13′)
A partir da instalação Points de vue, de Daniel Buren, ARC 1983.
“Não um caminho a seguir, mas percursos a descobrir, a inventar. Espaço fragmentado, que se torna labiríntico naquilo que um labirinto tem de imprevisto, como um agenciamento de caminhos cruzados. Lá onde nos perdemos: quando a pergunta ‘onde?’ se torna ‘por onde?’.
VISÕES
A mostra Visões deste ano traz uma retrospectiva do Colectivo Los Ingrávidos, grupo mexicano responsável por uma das mais vibrantes obras do cinema experimental contemporâneo. Explorando um repertório vai desde a ancestralidade indígena até as manifestações políticas contemporâneas, dos elementos naturais às imagens do trabalho, seus filmes produzem verdadeiras explosões visuais e sonoras que apontam para uma descolonização das maneiras de ver e ouvir o mundo.
ABERTURA – VISÕES: COLECTIVO LOS INGRÁVIDOS 1 + DJ Supololo (masterplano)
A sessão de abertura do FENDA propõe um diálogo performático entre música e cinema, reunindo filmes realizados pelo Colectivo Los Ingrávidos – grupo de artistas mexicanos que trabalha com a materialidade das paisagens locais e as texturas ánalógicas, inspirado pelas lutas de movimentos sociais e pelo transe xamânico indígena – e a sonoridade do DJ Supololo, que explora ritmos eletrônicos latino-americanos e fará um set especial em resposta às imagens. Realizada ao ar livre no pátio externo do Centro Cultural Vila Marçola, a sessão é um convite para dançar com os olhos, os ouvidos e o corpo inteiro.
VISÕES: COLECTIVO LOS INGRÁVIDOS 2
O Quarteto Solar, parte 1: Pedra do Sol, (The Sun Quartet, part1: SunStone, Los Ingrávidos, México, 2017, 6’)
O Quarteto Solar é uma composição solar em quatro movimentos, uma estrutura política em quatro elementos naturais, uma composição audiovisual em quatro mutações corporais: uma pedra solar onde a juventude floresce em protesto, um rio que transborda das ruas, uma planície ardente crescendo na cidade. E, finalmente, o clamor do povo que abalou o México após a noite de 26 de setembro de 2014. O desaparecimento de 43 estudantes de Ayotzinapa abriu uma fenda no corpo político mexicano.
O Quarteto Solar, parte 2: Rio San Juan (The Sun Quartet, part 2: San Juan River, Los Ingrávidos, México, 2017, 12’)
O Quarteto Solar é uma composição solar em quatro movimentos, uma estrutura política em quatro elementos naturais, uma composição audiovisual em quatro mutações corporais: uma pedra solar onde a juventude floresce em protesto, um rio que transborda das ruas, uma planície ardente crescendo na cidade. E, finalmente, o clamor do povo que abalou o México após a noite de 26 de setembro de 2014. O desaparecimento de 43 estudantes de Ayotzinapa abriu uma fenda no corpo político mexicano.
O Quarteto Solar, parte 3: Conflagração (The Sun Quartet, Los Ingrávidos, part 3: Conflagration, México, 2017, 16’)
O Quarteto Solar é uma composição solar em quatro movimentos, uma estrutura política em quatro elementos naturais, uma composição audiovisual em quatro mutações corporais: uma pedra solar onde a juventude floresce em protesto, um rio que transborda das ruas, uma planície ardente crescendo na cidade. E, finalmente, o clamor do povo que abalou o México após a noite de 26 de setembro de 2014. O desaparecimento de 43 estudantes de Ayotzinapa abriu uma fenda no corpo político mexicano.
O Quarteto Solar, parte 4: Longe de Ayotzinapa (The Sun Quartet, part 4: Far from Ayotzinapa, Los Ingrávidos, México, 2017, 22’)
O Quarteto Solar é uma composição solar em quatro movimentos, uma estrutura política em quatro elementos naturais, uma composição audiovisual em quatro mutações corporais: uma pedra solar onde a juventude floresce em protesto, um rio que transborda das ruas, uma planície ardente crescendo na cidade. E, finalmente, o clamor do povo que abalou o México após a noite de 26 de setembro de 2014. O desaparecimento de 43 estudantes de Ayotzinapa abriu uma fenda no corpo político mexicano.
VISÕES: COLECTIVO LOS INGRÁVIDOS 3
Impressões para uma Máquina de Luz e Som (Impressions for a Light and Sound Machine, Los Ingrávidos, México, 2014, 6’)
Uma mulher levanta sua voz e faz um discurso doloroso e interminável que, com o tempo, se torna ainda mais esmagador. Suas palavras são impressões de partir o coração, marcas permanentes na memória coletiva, esfaqueando com palavras um antigo filme mexicano, um fragmento de celulóide que se despedaça até desaparecer.
Coyolxauhqui (Coyolxauhqui, Los Ingrávidos, México, 2017, 7′)
Coyolxauhqui reencena o desmembramento mítico da deusa da lua asteca Coyolxauhqui por seu irmão Huitzilopochtli, a divindade da guerra, do sol e do sacrifício humano. O filme é um poema de percepção, que revela como o feminicídio mexicano contemporâneo está ligado a uma história patriarcal com raízes em construções culturais mais profundas.
Sangue seco (Sangre seca, Los Ingrávidos, México, 2017, 10′)
Vários momentos históricos do ativismo político no México são sobrepostos e corroídos em emulsão de película vencida. As imagens do Dia Internacional da Mulher de 2017 são associadas aos registros de um poderoso discurso sobre as terríveis consequências da agitação civil de 2006 em San Salvador Atenco.
Você viu? (¿Has visto?, Los Ingrávidos, México, 2017, 7′)
O Dia das Mães no México é considerado um dos feriados familiares mais importantes do ano. Porém, milhares de mães não têm nada a comemorar. São as mães de vítimas de desaparecimentos forçados. Mães e parentes dos desaparecidos participam da “Marcha da Dignidade Nacional: mães que buscam seus filhos, suas filhas e justiça”.
Notas para um Déjà Vu (Notes for a DejaVu, Los Ingrávidos, México, 2021, 22′)
Uma experiência paramnésica das imagens em que Jonas Mekas ainda está vivo e podemos ouvi-lo comentar sobre a memória de uma viagem imaginária ao México. Filmado com película 16 mm vencida, durante um protesto popular. Este é um filme que se lembra. Este é um filme político.
VISÕES: COLECTIVO LOS INGRÁVIDOS 4
O ninho do Sol (El Nido del Sol, Los Ingrávidos, México, 2021, 5′)
No ninho do Sol, Xolotl, Huitzilin e Xochitl se reúnem para recuperar a dança da radiação, cujo calor colorido agita o novo fogo de sua dança cósmica. Parte do filme Tonalli. Exibição em 16mm.
Tonalli (Tonalli, Los Ingrávidos, México, 2021, 16′)
“Com base no antigo conceito de Nahuatl da alma animadora ou força vital, Tonalli se engaja nos poderes ritualísticos do cinema, convocando o fogo, as flores e muitas luas em uma colagem frenética e fascinante feita diretamente na câmera. Aqui, em meio a um redemoinho de imagens e abstrações texturizadas, os deuses da criação e da fertilidade se manifestam, dissolvendo-se em cores iridescentes e ritmos densos e corporais” (NYFF59)
Sensemayá (Sensemayá, Los Ingrávidos, México, 2021, 7′)
Sensemayá é uma composição xamânica, uma dança extática e um feitiço ritualístico que destila e exala o movimento cinético da cobra antiga que habita nossos tempos deslocados atuais. Alternando entre a poesia, a perturbação e o presságio, a Sensemayá se contorce e repete seus padrões, imagens pulsantes que parecem fora do tempo, abrangendo o passado, o presente e o futuro.
Itzcóatl (Itzcóatl, Los Ingrávidos, México, 2014, 5′)
As escalas da cobra refratam um transe e uma invocação. No epicentro, as pirâmides se juntam à batalha de Izcóatl e a “serpente obsidiana” propaga uma exortação: todas as danças contra a guerra.
Terra em Transe (Tierra en Trance, Los Ingrávidos, México, 2022, 38′)
Estes são os corpos dançantes em êxtase agitado: prelúdio ao transe, invocação dos deuses, consagração da intermitência. Aqui, nosso ponto de vista brilha sob o feitiço e o transe das coisas reunidas, caídas, indulgentes; vento pluvial, mesoamericano; respiração de Deusa; brisa de gravetos, instrumentos percussivos de madeira. Aqui o diagrama audiovisual que nos guia, o fôlego cinético que nos inspira, a lança serpentina que nos arrebata, as plumas agitadas que tremulam sobre nós são o som e o estrondo do Teponaztli, um instrumento de percussão mesoamericano: serpentina, danças, bastões saltitantes, tangas, galhos e madeira. Serialismo cinético e audiovisual vindo das brasas da terra. Esta é a Terra em Transe.
COMPETITIVA BH
A mostra Competitiva BH é dedicada a curtas-metragens experimentais realizados em Belo Horizonte e na região metropolitana da capital no último ano. A seleção, realizada pelos jovens Filipe Bretas, Helena Elias e Lucas Oliveira, foi composta a partir de convocatória aberta a artistas locais, que foram convidados para estar presentes na sessão para interagir com o público.
COMPETITIVA BH 1
Mnema (Rodrigo Leme, Brasil, 2022, 6”)
Uma máquina feita de memórias vaga pelo espaço sideral. Curta feito com imagens e sons gerados por inteligência artificial.
Curral Central (Rosa Dornas, 2022, Brasil, 4’)
Serra do Curral, Belo Horizonte, antiga Curral del Rey, e em seu coração, o Mercado Central. Fundado em 1929, o Mercado é um importante ponto turístico e comercial da capital de Minas Gerais. Seu comércio e fama são em grande parte sustentados pela boa e velha “cultura mineira”, que envolve muita carne, cachaça, queijo e doces, além dos artesanatos característicos. A maioria das lojas vende produtos de origem animal, sejam eles alimentos, couro, própolis, remédios… Além das queijarias, açougues, restaurantes e lojas de “mineiridades”, o Mercado ainda possui um outro tipo de “produto” que entra nessa conta: os animais vivos. São 8 lojas que vendem aves e mamíferos e 6 que vendem peixes e répteis. Amados por muitos, mas também pauta de diversas controvérsias, esses estabelecimentos atraíram discussões acirradas nos últimos anos sobre a história e tradição do lugar versus a ética e condições dos animais ali enclausurados. Curral Central retrata o universo do comércio de animais (e seus derivados) dentro dos corredores caóticos deste espaço tão único.
Primeira sessão (Pedro Henrique Moreira, 2022, Brasil, 11’)
“Primeira Sessão” é uma obra de videoarte que expõe o impacto da pandemia de COVID-19 no bem-estar mental dos indivíduos durante o isolamento social e a negligência governamental. Utilizando a técnica de videofeedback, a obra aborda a angústia e as aflições vividas durante a pandemia, empregando a transposição entre o vídeo digital e analógico para criar uma poética visual. O processo de videofeedback é repetido por 22 vezes, ilustrando os 22 meses entre o início da pandemia e a imunização completa da faixa etária de 30 anos, destacando a deterioração da imagem a cada nova retransmissão.
Monumento à Desmemorialização (Florença Francisco, 2022, Brasil, 5’)
Em um futuro distópico, o governo brasileiro estabelece o Ministério da Memória Nacional e o programa de desmemorialização, tendo como objetivo apagar quaisquer registros de dissidência. Algoritmos caçadores percorrem a internet, detectando e destruindo fotos e vídeos de atividades que contrariam os programas autoritários do governo. O “Monumento à Desmemorialização” é uma última tentativa dos rebeldes de resgatar e preservar essas imagens, um retrato distorcido e corrompido de um futuro que não existe, mas já parece ser realidade.
mix-bus (Walquíria Isabel, 2022, Brasil, 4’)
Em “mix-bus?”, a canção “Last Night a DJ Saved my Life” de Indeep conduz a edição de filmagens das ruas de Belo Horizonte gravadas da janela de um ônibus. É sobretudo uma exploração das possibilidades da montagem ao vivo. Música e imagem acontecem no tempo e no espaço – virtual e físico.
Agora você vai ver o meu rosto até nos lugares mais insubmissos dessa cidade (Breno Henrique, 2023, Brasil, 131)
experimento sensível e provisório sobre habitar o espaço urbano.
COMPETITIVA BH 2
Sumidouro/Nada continua (Gabraz Sanna, Diana Sandes, 2023, Brasil 7’)
Sumidouro: Para onde tudo escoa
Nada Continua: Uma mulher ergue monumentos em um campo de mineração
L A V A (Francisco César, Luiz Pretti, Natália Reis, 2022, Brasil, 20’)
Forças da natureza. Ciclos de transformação. Ritos de lavação. Fluxos.
Dois músicos se encontram para improvisar e fazer irromper o não dito.
L A V A. Faz-se o convite para afetar com imagens o material sonoro-musical dos atos, sensibilizar forças e entranhas da matéria, abrir contracantos, desvanecer, improvisar junto. Assinada por três, esta obra imersiva apresenta polifonias também na dramaturgia poética. Seus impulsos experimentais permitem, sem imperativos, nos movermos entre música, filme, composição e desejos.
Natureza e destino (Bruna Costa Leite, 2022, Brasil, 4’)
O que é ser mulher? perguntou a analista na beirada do despenhadeiro que eu me encontrava. Não sei ao certo, respondi. Por conta do seu silêncio devolutivo, o abismo me puxou. Ainda escuto o eco de minhas últimas palavras ditas enquanto eu caia: é um horror
Folhada (Paula Huven, 2022, Brasil, 6’)
A vida que se transforma com a mudança repentina de uma casa encontra seu eco na transfiguração de um livro a partir das folhas postas dentro dele para secar. Ao abrir o livro, o inesperado se apresenta, novas imagens ressurgem, dentro e fora dele. Folhas de tabaco, folhas do livro, sonhos se atravessam tornando visível a incessante relação e transformação de tudo que é vivo – inclusive das imagens.
c:\lixeira (Arthur Quadra, 2022, Brasil, 8’)
Filme experimental realizado por meio de edição e montagem de registros descartados de outras produções entre 2014 a 2021. Atravessando às imagens, o personagem faz um percurso caminhante e performático elaborando sobre o “binômio” fracasso-sucesso.
COMPETITIVA INTERNACIONAL
A mostra Competitiva Internacional é dedicada a curtas-metragens experimentais de todo o mundo, realizados no último ano. A seleção, realizada pelos programadores Carla Italiano, Luís Fernando Moura e Victor Guimarães, foi composta a partir de convocatória aberta e de convites a artistas internacionais.
COMPETITIVA INTERNACIONAL 1
Abrir é Abrindo (Open is Opening: Abrir es Abrirendo, Amber Bemak, Nadia Granados, Liz Rosenfeld, Colômbia, Alemanha, EUA, 2023, 19’)
Um trabalho narrativo experimental rastreando a distância entre três artistas trabalhando remotamente entre três continentes diferentes. A sujeira, uma substância que inadvertidamente atravessa as fronteiras, tornou-se um vetor para uma profunda intimidade entre as realizadoras.
Adeus Agora (Bye Bye Now, Louise Bourque, Canadá, 2022, 8’)
Acenando para a pessoa que filma, os sujeitos, por esse mesmo gesto, estão também fornecendo a um futuro espectador o reconhecimento de um adeus constante a um momento fugaz. No entanto, quando o filme é projetado e o gesto capturado é visto, é como se os sujeitos estivessem dizendo acenando novamente, do passado. Este filme é uma homenagem ao pai da artista, o homem por trás da câmera nesses arquivos pessoais da família.
Não é Isso Que Eu Deveria Sentir? (Isn’t this what I’m supposed to feel?, Abdimalik Ahmed, EUA, 2023, 7’)
No inverno, ele caiu no poço mais profundo da depressão que já experimentou. Ele guarda apenas alguns lampejos de lucidez desse período. Não era assim que ele deveria se sentir?
Bestiário: Quatro (Bestiario cuatro, Milton Ernesto Guillén, Luis Fernando Amaya, Elana Meyers, Nicarágua, 2023, 12’)
O filme está composto (em partes iguais) por composição, performance e instalação. A peça descentraliza o ser humano como um conceito, destaca aqueles que raramente são considerados como sujeitos iguais e desafia a percepção do público sobre os seres que escutam com algo mais do que seus ouvidos.
Ar Quente (Pe ataju jumali / Hot Air Unides contra a colonização: muitos olhos, um só coração, Brasil, Colômbia, 2023, 25’)
Os países do Norte Global são os maiores poluidores do planeta com suas emissões de CO2. Assim, criaram o sistema de créditos de carbono, que finge proteger florestas no Sul Global, que já são protegidas por seus povos originários. Uma farsa típica do capitalismo financeiro conhecida como “ar quente”. Os seres daquelas florestas, através de suas ativAÇÕES perforMÁGICAS, vieram revelar essa grande farsa e convidar a todos para fazer justiça ambiental com suas próprias mãos unidas numa grande espiral cósmica.
COMPETITIVA INTERNACIONAL 2
Sequências Labirínticas (Laberint Sequences, Blake Williams, Canadá, 2023, 20’)
Filmado no Laberint d’Horta, no Barcelona, o filme traça várias viagens ao jardim em busca de seu centro, onde uma estátua de Eros espera. À medida que o filme navega pelos falsos caminhos do labirinto, sua estrutura recursiva começa a rachar, e um misterioso submundo inunda seus portões.
A mão que toca o braço (Calac Nogueira, Brasil, 2022, 14’)
A mão que toca o braço examina interações entre homens e mulheres em filmes hollywoodianos produzidos entre as décadas de 1930 e 1960. Ao desnaturalizar gestos que frequentemente passam despercebidos, o filme revela uma pertubadora onipresença do toque.
Afogada (Ertrunken, Friedl vom Gröller, Austria, 2022, 3’
“Quando ela se afogou e nadou dos riachos para os rios maiores”. A voz tocante e amadora da cineasta canta uma canção de Bertold Brecht e Kurt Weill de 1920. Plantas na margem, movidas por água corrente. A plasticidade da água, um brilho na borda. Matéria e metafísica. (Madeleine Bernstorff)
A Poeira Já Não Nubla Nossos Olhos (El polvo ya no nubla nuestros ojos, Colectivo Silencio, Peru, 2022, 25′)
Um conjunto de lembranças, uma série de leituras. Depois de duzentos anos como nação, o Peru tem muitas lutas esquecidas em diferentes territórios e em diferentes momentos. Em nosso aniversário do bicentenário, este filme em Super 8 reúne lutadores e famílias para uma compilação de discursos provenientes do lado mais íntimo de nossa história recente.
Começo a Ver a Luz (I’m beginning to see the light, Melissa Dullius, Brasil, Alemanha, 2023, 10′)
O horizonte desde uma ponte sobre trilhos de trem. Um experimento de persistências: variações sobre um motivo foram capturadas por uma câmera de 16mm em diversas emulsões: negativo, positivo ou reversível, colorido ou preto branco, base de acetato ou poliéster. Começo a ver a luz é um filme experimental e uma filmperformance. Imagem em movimento quase sem movimento; a duração de cada segmento evidencia a música da superfície das imagens e o ritmo dos sais de prata e torna audíveis as vozes dos processos fotoquímicos. Filmado em “pontas”, restos de película virgem, o material foi na maior parte revelado à mão e parcialmente modificado com animações e colagens feitas diretamente na película. A música original é de Rossano Snel e foi executada e improvisada ao piano durante a primeira apresentação da filmperformance.
COMPETITIVA INTERNACIONAL 3
8 de Março de 2020: Memórias (March 8, 2020: A Memoir, Fırat Yücel, Turquia, 2022, 15′)
Estamos na Praça Taksim assistindo às consequências da última manifestação de massa na cidade, antes da pandemia do Covid-19. Duas vozes refletem sobre o que vêem na tela. Uma criança brincando com um balão vermelho, jovens dançando na rua, pessoas tirando fotos, a primeira exposição de Marina Abramovic em Istambul… À medida que a narrativa se desenrola, as imagens tomam novos significados: estas são gravações de tela dos municípios de Istambul 24 horas por dia, todos os dias da semana ao vivo de “câmeras turísticas” filmadas no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, de 2020. Um livro de memórias e um ensaio documental com várias vozes tentando encontrar os pontos cegos dessas imagens.
Revólver (REVOLVER, Crystal Z Campbell, USA, 2022, 17′)
Um arquivo de pareidolia (uma situação em que alguém vê um padrão ou imagem de algo que não existe) narrado por um descendente dos Exodusters, migrantes afro-americanos que se transferiram dos estados ao longo do rio Mississipi para o Kansas no século XIX.
Eu Vi (I saw, Vadim Kostrov, Rússia, 2022, 28′)
O filme nos leva a Nizhny Tagil em setembro de 2021. Gosha Gordienko, o vocalista da banda de rock Lazy Comet, e Matthew Bedin se reúnem para compor a canção Ya Videl para o novo álbum do grupo, que ficou incompleto. O filme é uma memória, um gesto que, contra todas as probabilidades, nos lembra o verdadeiro poder e a beleza da criação artística. Desde aquele momento das filmagens, o mundo e a Rússia mudaram dramaticamente. Ya Videl é um post scriptum amargo para esse ciclo, um portal para o passado recente, uma tentativa órfica de olhar para trás pela última vez.
COMPETITIVA INTERNACIONAL 4
Simpósio Preto (Black Symposium, Katia Sepúlveda, República Dominicana, Alemanha, 2022, 26′)
Um vídeo que articula a agência política da mulher afro-caribenha com os temas do afeto, da sexualidade e da sensualidade na vida cotidiana, o amor em suas diferentes manifestações em relação aos seres sencientes e à Mãe Terra. A partir da questão “Por que a prostituta é negra?”, em um entendimento decolonial, o trabalho torna explícito e procura representar a conexão entre a marronagem, a experiência do amor em sua multiplicidade relacional, a ontologia e o iorubá. A peça é um ritual de profundo amor e gratidão aos ancestrais, às luases e ao mar por nos fazer o que somos. A aposta estética-conceitual implica no desenvolvimento de uma metodologia participativa que confronta ativamente as convenções da produção audiovisual.
Exemplo Nº 35 (Ejemplo # 35, Lucía Malandro, Daniel D. Saucedo, Cuba, 2022, 6′)
As imagens armazenadas nos Arquivos Judiciais de Cuba encerram o segredo mais bem guardado da ilha: uma história alternativa da qual os incoformistas, os desajustados e os dissidentes também fazem parte.
Todos Queremos um Lugar para Chamar de Nosso (We all want a place to call our own, Daniela Delgado Viteri, Equador, 2022, 13′)
Um salão de beleza de Madri cheio de pessoas que vêm ver e tocar uma réplica da Virgem do Quinche. Um padre propõe levar a estátua para uma igreja no centro. A história continua quando a réplica da Virgem é devolvida ao cabeleireiro depois que uma multidão irritada não concorda com a maneira com que o padre lida com as coisas. Então, eu decido escrever uma carta ao padre. Oferecê-lo um acordo que ele não poderá recusar.
Como Construir uma Casa com Destroços e Trapos (How to Build a House out of Wreckage and Rags, Bernd Lützeler, Alemanha, 2022, 8′)
Califórnia nas décadas de 1950 e 60. Um jovem casal indiano aproveita seu sonho americano pessoal feito realidade em sua casa em algum lugar nos subúrbios de São Francisco. Com grande detalhe, eles representam sua riqueza recém adquirida na frente da câmera Super-8. Assim como acontece com os cartões postais, eles enviariam estes rolos de filme para suas famílias na Índia. Na mesma época, um casal missionário americano visita a cidade de Calcutá para realizar um filme de propaganda cristã. A realidade drástica da pobreza e da fome nas ruas da metrópole indiana se encaixa perfeitamente em seu plano perverso: promover a crença em Cristo, mostrando a miséria que os crentes pagãos estão condenados a sofrer.
Dembi Tama (Alex Brandão, Modou Kara, Brasil, 2022, 7′)
Kara Modou é senegalês e vive no Brasil há anos. O filme procura registrar sua relação com a percussão e a preservação das tradições africanas que remetem às suas origens. Um filme sobre memória.
Navaja (Urutau Maria Pinto, Brasil, 2022, 25′)
“Séan todes bienvenides a lo programa de la rádio Kaos. Hablamos del Territorio de Abya Yala, posterior a Brasil, territorio recientemente reanudado. Estamos reunides aquí hoy para el lanzamiento de la NAVAJA Nano-Satélite que lleva Trans-DNA de travestis terrestres post-brasileñas, y será lanzada para ciberespacio-tiempo-sideral. Este proyecto fue desarrollado por el AntiGenik – Laboratorio y Centro de Estudios y Investigaciones en el Espacio Transvestisgeneres Sudaca…”
HORIZONTES
A mostra Horizontes é dedicada a artistas belo-horizontinos com uma trajetória sólida no campo do cinema experimental.
HORIZONTES: MARCELLVS L.
Nesta sessão, homenageamos o trabalho de Marcellvs L., artista que trabalha com vídeo e som e exibe internacionalmente desde os anos 2000, em espaços como a Bienal de Sidney, o Centre Georges Pompidou, o Museu Reina Sofía e o festival de Oberhausen. A sessão traz os trabalhos 0778 ou man.road.river.(2004), 9493 (2011), Toga (2011) e Resiliência (2016), que se destacam por uma relação meditativa e poderosa com o tempo.
0778 ou man.road.river. (Marcellvs L.,Brasil (2004, 9’)
Um homem. Uma estrada. Um rio. Parte da série VídeoRizoma, desenvolvida desde 2002.
Toga, (Marcellvs L., Islândia, 2011, 10’)
Toga em islandês significa puxar. O trabalho foi feito capturando aproximadamente 2m de largura de uma bobina que tem a função de retirar e enrolar redes de pesca que foram usadas por barcos durante meses no mar. As redes medem em média de 500 a 800m e o vídeo foi feito sem cortes ou alteração no tempo, registrando todo o comprimento da mesma.
9493 (Marcellvs L., Islândia, 2001, Islândia, 11’)
9493 trata de uma certa indiferença humana à uma ordem estabelecida e compartilhada se movimentando em paralelo à fundamental indiferença da natureza em relação ao homem. Talvez acampar e possivelmente presenciar uma tempestade na Islândia seja tão corriqueiro quanto ir a praia e talvez encontrar o sol no Rio de Janeiro. O garoto está concentrado em seu jogo e completamente indiferente à essa realidade comum a ele. Da mesma forma a tempestade, movendo-se e se intensificando independente de suas ações e reações. O que interessa é como ambas as indiferenças se articulam sem conflitos ou contradições. Ser indiferente à indiferença da natureza talvez seja fundamental para produzir sentido na inconsistência da realidade, ou caos.
Resiliência (Marcellvs L., Islândia, 2016, 24’)
O trabalho foi gravado na maior hidroelétrica da Islândia, Kárahnjúkar. Para sua construção foi inundada a segunda maior região selvagem da Europa, destruindo um ecossistema único com o intuito de fornecer energia barata para empresas estrangeiras de produção de alumínio. O trabalho experimenta com alterações abruptas do batimento cardíaco dos espectadores e sua capacidade de lidar com a mudança e sustentar choques mantendo sua integridade em confronto com forças externas.
HORIZONTES: MLB
A mostra Horizontes é dedicada a artistas belo-horizontinos com uma trajetória sólida no campo do cinema experimental. Nesta sessão, revisitamos a filmografia realizada pelos cineastas Aiano Bemfica e Pedro Maia de Brito – além de outros colaboradores – junto ao Movimento de Luta nos Bairros, Lutas e Favelas (MLB) de Belo Horizonte. Nos três curtas-metragens aqui reunidos – Na Missão, com Kadu (2016), conte isso àqueles que dizem que fomos derrotados (2018) e videomemoria (2021) –, a vocação militante se combina a um gesto experimental de interrogação sobre as formas do cinema político.
Na Missão, com Kadu (Aiano Bemfica, Pedro Maia de Brito e Kadu Freitas, Brasil, 2018, 27’)
Na luta por moradia em Belo Horizonte, no maior conflito fundiário urbano da américa latina, um militante, sua câmera e seu povo enfrentam o poder dos cassetetes e das bombas de gás.
conte isso àqueles que dizem que fomos derrotados (Aiano Bemfica, Camila Bastos, Cris Araújo e Pedro Maia de Brito, Brasil, 2018, 23)
A noite é tempo de luta (ou há um novo lugar possível sendo avistado no horizonte).
videomemória (Aiano Bemfica e Pedro Maia de Brito, Brasil, 2020, 21’)
o tempo passa como um cigarro fumado a noite
quando através de sua fumaça vejo
cada imagem daqueles dias que ainda lembro
para sorrindo chorar nossas glórias
SESSÃO ESPECIAL DE ENCERRAMENTO
Últimas Coisas (Last Things, de Deborah Stratman, EUA, 2023, 43’)
Antes do início e até depois do final; evolução e extinção narradas de um ponto de vista mineral. A geo-biosfera apresentada como um lugar de possibilidades evolutivas, onde os humanos desaparecem, mas a vida continua. A mescla de referências inclui duas novelas de J.H. Rosny, os escritos de Roger Caillois sobre as rochas, o romance A Hora da Estrela de Clarice Lispector, a teoria da evolução mineral de Robert Hazen, entre outros. As rochas como arquivo, mas também seria possível escrever sobre a água. No final, são as partículas que permanecem.
INSTALAÇÃO
Lumbreras (Lumbreras, Los Ingrávidos, México, 2023)
Projeção digital filmada em 16mm e Super 8
As projeções como pontos de acesso que conectam o presente com um passado ancestral. Uma aposta no cinema como ritual xamânico que induz ao transe. Inspirada no ritualismo da cosmologia asteca, a instalação evoca as chamadas lumbreras – poços circulares escavados e encontrados em sítios arqueológicos, como o Tzompantili (altar feito com crânios humanos) descoberto recentemente no Templo Mayor de Tenochtitlan (Cidade do México). Composta pelos trípticos Coyote, Xiuhtecuhtli, Espejo humeante, Mictlantecuhtli e pela obra para um só canal Ritual, projetados em looping em um espaço construído especialmente para o festival, Lumbreras se destaca pelo uso de um cristal de obsidiana como filtro para as câmeras 16mm e Super 8 e pela trilha sonora hipnótica, feita inteiramente com instrumentos pré-hispânicos e tocada pelo quarteto de percussão mesoamericana Lluvia de Palos.
A projeção e as telas nesta instalação são pontos de conexão entre o presente e um passado ancestral. Inspirando-se no ritualismo e na cosmologia asteca, essa experiência evoca as chamadas lumbreras – buracos de escavação em sítios arqueológicos, como o que foi recentemente encontrado em Tzompantli (altar feito com fileiras de crânios) no Templo Mayor em Tenochtitlan (Cidade do México) – e ecoa o entendimento de cinema de Val de Omar como um processo espiritual. A utilização do cristal obsidiano como um filtro nuclear é também essencial. Através do vidro obsidiano, temos o vislumbre da dança celestial dos sóis e das luas, assim como a agitação do campo e a explosão do horizonte, mas é também através do olhar que o espelho obsidiano obscuro volta para nós.
Os objetos do Tzompantli são representados na trilha sonora palpitante e hipnótica através do uso de instrumentos indígenas feitos de ossos, madeiras, pedras, raspadores e assobios pelo quarteto de percussão mesoamericano Lluvia de Palos. O Colectivo los Ingrávidos propõe uma compreensão do cinema como um ritual xamânico que induz ao transe. Lumbreras rejeita o apagamento, a colonização e a apropriação capitalista do ritual indígena, recuperando-o como forma de meditação e compreensão do mundo.
Triptico 1 (Coyote, 2023, 15′)
Este é o olhar, o uivo e a agitação do coiote entre as montanhas. Este é o caminho do Coiote.
Triptico 2 (Xiuhtecuhtli, 2023, 15′)
Esta é a invocação do fogo antigo e ancestral, em cuja luz são reanimadas as matérias audiovisuais assim como o brilho fulgurante da cor.
Triptico 3 (Espejo humeante, 2023, 15′)
Este é o olhar que o espelho escuro da obsidiana nos devolve.
Triptico 4 (Mictlantecuhtli, , 2023, 15′)
Esta é uma invocação ao Deus ancestral do Inframundo, o antigo aniquilador de mundos, aquele que preserva a inércia ritual das pedras e dos ossos.
A través del cristal de obsidiana vislumbramos la danza celeste de los soles y las lunas.
Ritual (Ritual, Los Ingrávidos, México, 2023, 15′)
Através do cristal de obsidiana vislumbramos a dança celeste dos sóis e das luas.
CONFERÊNCIA
Materialismo xamânico, com Davani Varillas (Colectivo Los Ingrávidos )
Nesta conferência, a realizadora Davani Varillas abordará uma das teses mais importantes da práxis audiovisual que vem sendo desenvolvida pelo Colectivo Los Ingrávidos, e que diz respeito a um “processo que resulta num transe fílmico político de agitação em que esta não mais emanaria de uma tomada de consciência ou da mobilização de massas, mas consistiria em colocar contingências e circunstâncias em transe, inclusive, em primeiro lugar, a própria Razão”. Através de reflexões sobre os métodos do grupo e de exemplos de filmes realizados na última década, a realizadora nos contará como o trabalho do Colectivo se propõe a formar, através do transe, “uma nova percepção cosmológica e cosmopolítica da violência, do mito, da ancestralidade, da precariedade e da extinção”.